Mudos

Muitos são os anéis que seus aniverários desenharam
em seu tronco. Estas árvores, estes gigantes cheios de anos,
levam séculos cravados no fundo da terra, e não podem fugir.
Indefesos diante das serras elétricas, rangem e caem. Em cada
derrubada o mundo vem abaixo; e a passarada fica sem casa.

Morrem assassinados os velhos estorvos. Em seu lugar, crescem
os jovens rentáveis. Os bosques nativos abrem espaço para os
bosques artificiais. A ordem, a ordem militar, a ordem industrial,
triunfa sobre o caos natural. Parecem soldados em fila,
os pinheiros e eucaliptos de exportação que marcham rumo
ao mercado internancional.

Fast food, fast wood: os bosques artificiais crescem num
instante e vendem-se num piscar de olhos. Fontes de divisas,
exemplos de desenvolvimento, símbolo de progresso, esses
criadouros de madeira ressecam a terra e arruínam os solos.

Neles, os pássaros não cantam.

As pessoas os chamam de bosques do silêncio.

Eduardo Galeano